O equilíbrio político do grupo é reanalisado após a oficialização de cinco novos membros e a não-adesão da Argentina.
Em agosto de 2023, durante a 15ª Cúpula do BRICS, o grupo - inicialmente composto por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul - anunciou a adesão de seis novos membros. A partir de janeiro de 2024, Argentina, Egito, Irã, Etiópia, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos integrariam o BRICS+. No entanto, a vitória do candidato de direita, Javier Milei, na eleição presidencial argentina alterou as intenções do país em relação ao bloco. Já durante sua campanha, Milei indicou que interromperia o processo de adesão da Argentina ao BRICS, cujo havia sido negociado por seu antecessor, Alberto Fernández, por intermédio do presidente brasileiro, Lula.
A expansão do BRICS foi uma iniciativa liderada por Pequim, com o objetivo de reduzir a influência dos Estados Unidos e da União Europeia na política mundial. Para o Brasil, a entrada da Argentina no bloco representava uma forma de equilibrar os interesses de China e Rússia e um trunfo político ao incluir um parceiro estratégico. Pelo lado argentino, o ingresso do país possibilitaria o acesso facilitado a investimentos chineses e empréstimos do Banco do BRICS, também conhecido como Novo Banco de Desenvolvimento (NDB).
O argumento do novo presidente argentino, Javier Milei, a respeito da recusa em participar do BRICS destacava a indisposição em se “associar a nações comunistas e que não respeitassem os princípios de livre comércio e da democracia”. A formalização da recusa veio por meio de uma carta aos países-membros, declarando que o momento não era "oportuno", haja vista a gestão da crise interna no país.
A desistência da Argentina não foi o único conflito de interesses sobre a participação no bloco. No final de janeiro, durante uma reunião dos 'sherpas' do BRICS, presidida pela Rússia, a Arábia Saudita não compareceu nem justificou sua ausência, indicando que o governo saudita está avaliando sua participação no grupo. Os sauditas desejam assegurar que ao se unirem ao BRICS+, isso não resulte em um alinhamento favorável à China e desfavorável ao Ocidente.
Apesar de o posicionamento argentino estar alinhado com as novas diretrizes da política externa do país, sua saída do BRICS+ desequilibra o equilíbrio proposto pelo Brasil. Isso ocorre em um momento em que o Brasil busca ativamente evitar que o grupo se torne uma entidade predominantemente influenciada pela China ou uma coalizão antiocidental que se contraponha ao G7. O Brasil, portanto, se vê diante do desafio de reafirmar sua posição como líder regional no BRICS, ao mesmo tempo em que busca preservar a diversidade de influências e interesses dentro da organização, a fim de manter sua relevância geopolítica e promover uma cooperação equilibrada entre os membros.
Autora:
Giselle Souza da Costa, analista de Comércio Internacional na BMJ Consultores Associados
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