A nova política tarifária de Trump vem moldando os debates comerciais a nível global, seja a partir de instabilidade econômica, novas negociações ou acordos bilaterais.
Donald Trump assumiu a presidência dos Estados Unidos pela segunda vez com uma postura de defesa da indústria nacional e forte protecionismo na economia e nas relações comerciais. Na tentativa de implementação dessas medidas, Trump executou a elevação das tarifas de importação, tanto por meio de ações setoriais, como para aço e automóveis, quanto mais abrangentes, como a sobretaxa de 10% à maioria de seus parceiros. O objetivo é restringir a entrada de produtos de outros países, principalmente chineses, na expectativa de incentivar consumidores americanos a comprar produtos nacionais.
Os Estados Unidos não tinham este volume de tarifas implementadas desde 1930, pela Lei Tarifária Smoot-Hawley, que foi adotada no contexto da Grande Depressão de 1929. Apesar dos objetivos da nova política tarifária de Trump, as medidas apresentam riscos inflacionários e de declínio no comercial internacional, assim como ocorreu durante a Smoot-Hawley. Nesse contexto de instabilidade, a pauta é marcada pelas reações internacionais, que se dividem entre negociações e retaliações.
Enquanto principal impactada por “tarifas recíprocas” dos Estados Unidos, a China anunciou retaliações aos produtos americanos. Inicialmente voltadas a carvão e petróleo, além de estabelecer o mínimo de 10% para todas as importações provenientes do país americano, as tarifas chinesas escalonaram ao longo de abril, atingindo 125%. O impasse é resultante de relações dificultadas entre os países, que marcaram “Guerra Tarifária” durante o governo Trump I e não foram solucionadas durante a gestão Biden. Em 2024, a China registrou um superávit de US$ 1 trilhão, o que intensificou a preocupação dos EUA em adotar medidas contra o avanço comercial chinês. Apesar das medidas, a negociação entre os países ainda é a principal saída em um cenário de tensões e incertezas sobre o comércio internacional e suas cadeias globais.
Na União Europeia, as tarifas de 25% impostas sobre produtos como aço e alumínio juntam-se com as tarifas recíprocas de 10% sobre as importações – que podem retornar a 20% em julho. A Comissão Europeia busca negociações com o país, mas não descarta medidas retaliatórias, com o objetivo de proteger seu mercado interno.
Para o Brasil, o avanço destas negociações internacionais pode gerar riscos e oportunidades. Primeiramente, o possível influxo de importações chinesas para o país preocupa a indústria local, mediante desvio da oferta chinesa destinada aos EUA. Ao mesmo tempo, o enfraquecimento das relações comerciais entre EUA e União Europeia pode significar um sinal verde para o acordo entre o bloco europeu e o MERCOSUL.
De maneira direta, as tarifas aplicadas por Trump evidenciam possível diminuição das exportações brasileiras para o país norte-americano, mas podem promover uma maior abertura comercial do Brasil para outros parceiros. A reação brasileira segue em linha de outros importantes atores comerciais. Mesmo que priorize o diálogo com o governo americano, o Brasil ganhou “carta na manga” para as negociações com a nova Lei de Reciprocidade Econômica, que reforça possibilidade de sobretaxa e outras ações comerciais como contramedida às tarifas americanas.
Diante desse cenário de crescente tensão comercial, à medida que os desdobramentos dessa guerra comercial se aprofundam, a estabilidade econômica mundial dependerá da capacidade dos países de equilibrar seus interesses nacionais sem comprometer as relações comerciais de longo prazo. A questão central passa a ser a efetividade das retaliações e suas possíveis consequências. Nas relações com a China, mesmo após postura agressiva e uma série “contrarretaliações”, os países têm se aberto para negociação de possível acordo, anunciando em maio a paralização de grande parte das tarifas. Com outros parceiros comerciais, o recuo de Trump veio logo após o anúncio das tarifas de reciprocidade, para aqueles sobretaxados acima de 10%.
Devido ao impacto das medidas comerciais em setores estratégicos, como a indústria agrícola ou tecnológica, há pressão interna para que Trump opte por negociações e concessões para evitar danos políticos e econômicos. A guerra tarifária não é sustentável tanto para grandes quanto para pequenas empresas, devido a custos adicionais para adquirir matérias-primas e componentes essenciais. O cenário instável para investimentos na economia americana também dificulta resultados positivos no curto prazo. Isto posto, espera-se que os EUA paulatinamente recuem na implementação da política tarifária, a partir de acordos bilaterais específicos com seus parceiros – iniciativas que, apesar da queda nas tarifas, serão retratados como vitórias por Donald Trump.
Autores: Ana Beatriz Zanuni – Consultora de Comércio Internacional na BMJ Consultores Associados
Tiago Costa Alencar – Estagiário de Comércio Internacional na BMJ Consultores Associados